5.7.11

Entrevista com Edgar Mosa

Edgar Mosa

Edgar Mosa, joalheiro portugues que estudou na Rietveld Academie em Amsterdã e terminou recentemente um mestrado na Cranbrook Academy of Art, Michigan e agora radicado em Nova Yorque nos concedeu essa breve entrevista. Para conhecer mais o trabalho de Mosa, acesse o seu site


Edgar Mosa, "Month Three", 2011

"I organize my collections according to my personal intuition, pairing objects as to grant them a specific relationship - to investigate, contemplate and to place myself in the world. This is why I make jewels - to communicate trough symbols, creating preciousness, meaning - to revisit moments and share them with an audience allowing instant reciprocity, in an intimate way.
I use jewelry as a language, and a measuring unit."


NJ:Voce poderia nos explicar ao que se refere quando diz unidade de medida, "measuring unit", em seu texto?

EM: Eu organizo as minhas colecções intuitivamente, revelando como compreendo arquétipos sociais e como neles me situo.
Este é o motivo pelo qual faço jóias, comunicando através de símbolos, criando preciosidade, significado. Para re-visitar momentos de forma íntima e partilhá-los com uma audiência permitindo reciprocidade instantânea.
Joalharia interessa-me como língua e como unidade de medida. Esta revela-nos ideias de valor material e sentimental, contando historias e tomando parte em rituais, situa-nos geograficamente através de materiais e técnicas, marca estatutos sociais. Esta forma de ornamento tem também a particularidade de ser executada para o corpo, definindo proporções corporais ao longo da nossa civilização, como que substituindo a balança e a fita métrica.

Com isto, comecei a interessar-me em formas de medida alternativas. Procurei materiais naturais que  incorporam na sua constituição o passar do tempo
Olhando para trás, revendo as colecções de joalharia que desenvolvi, a ideia de medição parece também ser uma constante.


Edgar Mosa, "The Mountain", 2011

NJ:Com tantas escolas europeias, porque decidiu estudar nos Estados Unidos?
EM: O motivo principal que me levou a tirar mestrado na Cranbrook Academy of Art foi o facto da Iris Eicheberg ser a artista residente, gestora do curso. Tive a oportunidade de conhecer a Iris durante os meus estudos em Amesterdão pois foi minha professora durante um ano na Gerrit Rietveld Academie, deixando em mim um interesse enorme, qual me levou a segui-la ate aos EUA, onde ensina ja ha 4 anos. Também era de meu interesse sair da Europa. A metodologia de ensino no meio da Joalharia Contemporånea é tão restrita quanto o meio em si. Interessava-me saber como se desenrolava a joalharia hoje em dia noutro local, e os EUA pareceu uma proposta aliciante, devido á importância que ainda é aqui dada á mão de obra (o tão chamado movimento "craft"). No entanto, nada disto teria sido possível sem o apoio financeiro das bolsas que me foram oferecidas por parte da Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação Luso-Americana, que me apoiaram durante todo o programa de estudos.
Edgar Mosa, "Month Three", 2010

NJ: Voce tambem realiza trabalhos em outras mídias (escultura, gravura, fotografia, etc) ou apenas joalheria?
EM: As escolas onde estudei tem a particularidade de motivar os alunos a cruzar doutrinas. Tenho explorado outras áreas das artes, maioritariamente com desenhos complementares, instalação, trabalho escultórico e performance, desenvolvendo o meu conhecimento e apreciação de um diverso leque artístico. As ligações visuais e conceptuais entre os diferentes trabalhos que executo interessam-me mais que a comum divisão entre arte aplicada e belas artes. Para mim elas coexistem. No entanto, não considero tudo o que faço como arte, grande parte destes trabalhos fora da área de joalharia vejo como um exercício, ou uma aventura. Estes ajudam-me a explorar técnicas diferentes da pratica clássica. Desta forma vejo-me estabelecer relações com o meio artístico de forma mais receptiva, não elitista.


Edgar Mosa, 'Covers', 2008



NJ: Aqui no Brasil tambem ha uma grande resistencia a aceitação da arte-joalheria com enfase no conceito, como voce relata que acontece nos Estados Unidos. Voce enxerga alguma saída para essa situação, de maneira que a visibilidade desse tipo de criação aumente?
EM: O meu encontro com a joalharia contemporânea nos Estados Unidos foi um choque em comparação com o circuito europeu, especialmente da Holanda e Alemanha, onde se parece ter estabelecido um mundo aparte. Aqui na América, a Joalharia contemporânea parece ainda aliada ao trabalho em metal, ás técnicas e aos materiais clássicos de ourivesaria. Infelizmente estas componentes comunicam somente mestria e destreza técnica, ignorando a importância de transmitir emoções, ou comunicar ideias. Talvez eu esteja a tentar diferenciar joalharia comercial de joalharia artística, a primeira sempre procurada devido ao seu valor material e técnico; a segunda á mercê de uma audiência sentimental muito restrita.
Olhando a diferentes formas de arte como a musica, por exemplo, aquilo que é popular tem sempre mais publicidade que o que é discreto e singelo. Infelizmente os media nem sempre se interessam pelo movimento vanguardista, o que a meu ver, é quem somos. No entanto, isto não quer dizer que uns sejam melhores que os outros. Aquilo que podemos fazer é, somente, mantermo-nos fiéis aquilo que acreditamos, respeitar aqueles que admiram o que fazemos, e esperar que aos poucos, a joalharia do nosso tempo se torne mais relevante á sociedade, como foi outrora, a outras civilizações.

2 comentários:

  1. Achei muito interessante a visão de Mosa, vou lá conhecer o site...

    Bjsssssssss

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  2. Lindo trabalho, Edgar!
    Eduardo Valadares

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