13.6.11

Os pioneiros

postado por Ana Paula de Campos
 
O debate em torno do campo da arte-joalheria no Brasil ainda é bastante insipiente, seja no contexto social, seja no campo acadêmico no qual a ausência de formação específica na área pode ser um dos fatores que configuram esse cenário. 

No Brasil, nas décadas de 60 e 70, a joia aproximou-se do universo das Artes Plásticas, tendo chegado a integrar importantes mostras como a Bienal de Arte de São Paulo, da 4ª edição em 1959 até a 12ª em 1973 inclusive com premiação específica para a categoria, conforme quadro abaixo:

Dentre os pioneiros da joalheria com desenho moderno no país, destacam-se nomes como o de Renée Sasson, Caio Mourão, Ulla Johnsen, Lívio Levi, Bobby Stepanenko, Clementina Duarte, Nelson Alvim e Reny Golcman. Também é possível citar artistas plásticos/ escultores que se dedicaram eventualmente à produção de joias, tais como Domenico Calabrone e Carlos Vergara entre outros (WAGNER, 1980). Entretanto, apesar dessa aproximação, a arte-joalheria não chegou a constituir uma prática artística amparada por uma formação acadêmica.

Durante as décadas de 80 e 90, uma formação de caráter mais técnico foi disseminada através de escolas de ourivesaria, muitas delas comandadas pelos próprios joalheiros acima citados, constituindo uma espécie de complemento de uma educação formal em artes ou em desenho industrial.

Foi no final da década de 90 que se deu o boom do design de joias no Brasil, incentivado por concursos e ações governamentais, tais como a criação de um planejamento estratégico para o setor joalheiro dentro do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade e a implantação do Prêmio IBGM de Design pelo Instituto Brasileiro de Gemas e Metais (Henriques, 2002 in LEAL). Ambas as iniciativas visavam tornar o mercado exportador de produtos com valor agregado e não apenas exportador de pedras e metais. Em poucos anos, surgiram diversos cursos de formação e/ou especialização em design de joias, sobretudo em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, vinculados à produção industrial, seja ela em larga escala ou em séries menores e mais ‘exclusivas’.

Entretanto, essa ênfase no design como legítimo campo de criação da joia tem dificultado a compreensão e inserção dessa prática como disciplina artística no país. Muitas das discussões em torno da joia restringem-se atualmente às noções de estilo (pessoal ou de um público-alvo) de gestão e de produção e a proliferação de conceitos e coleções, cadernos de tendências e ‘inovações’ em materiais (tecnológicos, ecológicos, exóticos, etc.) revelam uma aproximação com as dinâmicas da moda e fluxos de mercado.

Através desse breve relato sobre a história recente da joalheria no Brasil é possível compreender que caminhos nos levaram a atual condição da produção joalheira no campo da arte.

Reny Golcman

3 comentários:

  1. Parabéns Ana Paula. pela belíssima e instrutiva matéria!

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  2. Boa tarde, Ana Paula

    eu li seu artigo com interesse, e acho pena que voce a escola de joalheria OFICINA nao aparece na matéria. A Escola de Joalheria Oficina foi fundada no inicio dos anos 80 pela Profa. Miriam Korolkovas (que ateh hoje atua na área de joalheria). A Escola poderia ser comparada no que diz respeito a qualidade, com algumas escolas internacionais. Eu mesmo frequentei a mesma por um ano, antes de finalmente vir para a Alemanha(onde vivo há 20 anos), e aqui tive a chance de primeiro fazer o curso de ourivessaria e mais tarde estudar designer de jóias. Hoje vivo e trabalho na Alemanha, atuo na area de joalheria contemporânea, desenvolvo minha colecao de joias, que exponho e vendo aqui e em outros paises. Eu sou muito grata por isso, pois atraves da Escola Oficina tomei gosto pela joalheria. Eu escrevo esse comentario, pois acho que o trabalho da Profa. Miriam Korolkovas merece ser mencionado.

    Cilmara de Oliveira
    Frankfurt- Alemanha

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  3. Prezada Cilmara,

    Trata de um post sobre os pioneiros no sentido exato do termo, aqueles que começaram o movimento. Graças à iniciativa destes, nas décadas de 60 e 70, que as gerações seguintes realizaram seu trabalho, abriram escolas e formaram pessoas.
    Para falar da segunda geração, a lista de nomes seria muito maior. Teriamos que citar a contribuiçao de muitos outros, como por exemplo Michael Striemer que mantém até hoje sua escola e que teve a generosidade de organizar uma exposição em 2005 homenageando e reconhecendo a importância dos pioneiros.

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