postado por Ana Paula de Campos
Sexta feira tive a oportunidade de assistir a uma palestra do ícone da joalheria holandesa Gijs Bakker. Bem humorado, ele iniciou comentando que achou surpreendente como os brasileiros estavam pronunciando corretamente seu nome (lê-se “Ras Bakker”). Mais conhecido por seu trabalho à frente do Droog Design, ele veio participar do salão Design São Paulo, que aconteceu na OCA - Parque do Ibirapuera, onde uma plateia de interessados em design foram ouvi-lo.
Ainda que o evento tivesse como foco “ Conexões de Economia Criativa”, Bakker ressaltou desde os primeiros slides a importância de sua formação e atuação na joalheria, nos anos 60-70. Ao apresentar suas primeiras peças ele destacou que, mesmo tendo frequentado uma escola de ourivesaria muito tradicional, de caráter mais prático que reflexivo, a joia que produzia refletia a inquietude e o espírito de contestação da juventude daquele período.
Segundo ele sua geração tinha uma “crença sagrada” no novo - novos materiais, nova estética, nova atitude, novos conceitos - cultuando todas as manifestações que se opunham à tradição. Atraves do humor, seu recurso identitário, mostrou muitos exemplos, como as jóias para a nobreza – permitindo que todos os holandeses pudessem se sentir parte da famila real -, ou ainda sua versão da aliança de casamento – uma foto do ser amado para ser pendurada no pescoço.
Ao definir a joia como “esse objeto que diz tudo sobre nós”, Bakker destacou a importância do ornamento para além de seu papel decorativo, rejeitado desde os primeiros trabalhos que desenvolveu. Apesar da qualidade de suas peças e do reconhecimento que desfrutava na Holanda, Bakker explicou que nos anos 60-70 sua joalheria pertencia a um outro mundo, muito separado do design, aonde ser joalheiro era uma atividade abaixo do interesse.
“
Como joalheiro, parecia que eu estava vendendo pornografia, como designer fui mais considerado”.
Esse comentário parece explicar sua inserção no campo do design. À frente da Droog e como docente na Design Academy Eindhoven, Gijs Bakker teve papel de destaque na inserção do design holandês no cenário internacional, tão dominado, segundo ele, pelos italianos. Em sua análise a expertise dos holandeses está em ser “comerciantes”, enquanto que os italianos, ele considera-os como tradicionalmente “fabricantes”. Por isso sua recomendação aos designers foi “execute suas ideias pois se elas forem maravilhosas, mais cedo ou mais tarde voce terá que fazer negócios”.
Apesar do sucesso da Droog no mundo dos objetos, Bakker nunca deixou de atuar no território da joalheria, tendo fundado em 1996 o “Chi a paura...?”, em parceria com Marijke Vallanzasca. Trata-se de uma iniciativa de caráter expositivo e comercial aonde consagrados nomes do design são convidados a desenvolver uma joia, aproximando-os dos artistas joalheiros. Dentre os muitos colaboradores destacam-se Marcel Wanders, Marc Newson, Tord Boontje, Martí Guixé e os brasileiros Irmãos Campana.
Para finalizar Bakker apresentou suas mais recentes joias, inspiradas em jogadores de futebol, numa analogia às noções de status e valor (associadas aos milhões que os envolvem em salarios, patrocinios e equipes) presentes no imaginario da joia. Me pareceu claro que é através da joalheria que ele extravassa com ironia e humor seu olhar de crítico social.