28.1.11

Otto Künzli : traduzido

Ano passado Otto Künzli foi premiado com o Grande Premio da Confederação Suiça de Design.[i] Podemos traçar as raizes dos comentários políticos e sociais  tão característicos de seu trabalho 
em transformações a que a sociedade Europeia foi levada pelo desenvolvimento economico na segunda metade do seculo XX.[ii] No pós-guerra europeu as mudanças sociais influenciaram a educação de arte e transformaram as perspectivas dos ourives que foram educados em escolas de arte- que se tornarnao um terreno fértil para a polinização cruzada entren artes aplicadas e artes plásticas. Os departamentos de joalheria encorajaram a auto-espressão e individualidade, um objetivo que era mais buscado pelos artistas plásticos. Ao inces de apenas copiar e adpatar os modelos formais do passodo, os estudantes de artes aplicadas eram encorajados a mergulhar em novos materiais e conceitos, refletindo seu próprio tempo. O papel do ourives como um simples executor da idéia de um designer começava a mudar.
 
Otto Künzli (nascido na Suiça em 1948) estudou ourivesaria em Munique com professor alemão  Hermann Jünger (nascido em 1928) nos anos 70, uma época em que a perspectiva do ourives - como um técnico habilidoso - ainda estava sendo desafiada.  De forma mais significativa, a década anterior foi um tempo de inquietações sociais manifestas no movimento de contracultura. Artistas radicais anti-establishment usaram as novas mídias como performance e body arte, reagindo a aparente apatia do mundo. [iii] Arte tornou-se politizada novamente e tinha uma mensagem. Paralelamente, joalheiros começaram a questionar seu próprio campo de ação . Künzli pertence a uma geração de joalheiros europeus que inclui o holandês Gijs Bakker (1942), a inglesa Caroline Broadhead (1950) e o suiço Bernhard Schobinger (1946), que sentiam-se desconfortáveis frente as convenções do mundo da joalheria e suas tradicionais conotações de luxo e riqueza. Eles começaram usando materiais não preciosos para rejeitar os valores e conotações elististas . Também começaram a usar fotografia e performance como parte de sua prática e tambem a produzir múltiplos. Isto pode ser visto como uma resposta ao desejo de democratização de seu trabalho e um reflexo do desconforto que alguns tinham em usar materiais preciosos, especialmente o ouro. Esta geração de joalheiros criou um trabalho que desafiou as noções de preciosidade e usabilidade, explorando criticamente a história e tradição da área  para poder contestá-la. 

Embora o trabalho de Otto Künzli reflita uma variedade de preocupações dento e fora da área da joalheria,[iv]  é na exploração da história e materialidade do ouro que vamos nos ater aqui.


Otto Künzli. 'Ouro te deixa cego', 1980. borracha, ouro.
Künzli declarou que o ouro perdeu seu apelo para ele em parte devido a produção arbitrária de joalheria sem sentido. O que fora outrora o 'relfexo do divino' e era embebido em uma aura mitica tornara-se vazio e sem graça. Talvez isto tambem se devesse às circunstâncias sociais e políticas como a extração de ouro na África do Sul durante o  regime do Apartheid. Em 1980 ele decidiu fazer seu 'ultimo trabalho em ouro' . uma pulseira de borracha preta que continha uma bola de ouro - 'Ouro te deixa cego'.  Isto foi para ele uma maneira de retornar o ouro a escuridão de onde veio e permitir que ele o o revalorizasse novamente.[v]

Otto Künzli. ' Corrente', 1985-1986. Ouro. L: 85 cm

Ao voltar a usar ouro,  Künzli explorou o potencial narrativo da joalheria arquetípica mergulhada no ritual: a aliança de casamento. O resultado veio carregado de questões morais, poir 'Corrente' é feito a partir de 48 alianças de segunda mão.[vi] Embora seja ‘classica’ e agradável estéticamente, era, nas palavras do autor e crítico Ralph Turner, ' não-usável”:[vii] que iria querer uma corrente composta de alianças que foram parte da vida de outros, algumas até com gravações bem pessoais? Alianças de casamento são carregadas de conotações culturais. São peças de joalheria muito intimas e imagina-se que tenham sido estimados mesmo após a morte de seu dono, ou mesmo enterrada com ele. Para se ver que no final, a maioria é reciclada, derretida para produzir mais joalheria, destruindo a noção romântica do objeto pessoal precioso.  No catálogo da exposição The Third Eye,  Künzli pergunta:  “Quanto ouro da antiguidade, desde os astecas, desde maravlilhosos objetos de culto e peças de arrte vivem hoje em peças comuns de joalheria hoje, ou quanto dos dentes das vítimas de campos de concentração nazistas de concentração…?”.[viii] 'Corrente; nos faz refletir na natureza fundamentalmente transitória da vida e das relações, na transformação da matéria e no lugar da joalheria no meio de tudo isso.

Notas:
[i]  Este texto tinha a intenção de ser uma breve introdução ao trabalho de Otto Künzli em resposta ao post do NOVAJOIA sobre seu ultimo premio, não se trata de um ensaio temático.
[ii] Para uma discussão sobre essas mudanças, ver  Ursula Ilse-Neuman, ‘None that Glitters: Perspectives on Dutch and British Jewelry in the Donna Schneier Collection’, in Zero Karat: The Donna Schneier Gift to the American Craft Museum. New York: American Craft Museum, 2002.
 [iii] Piero Manzoni (1933-63), um dos pais da Arte Conceitual, criou uma edição limitada de latas contendo suas fezes, em 1961, para fazer um comentário sobre o culto `a persoanlidade no mercado de  arte ocidental”. Ver Robert Hughes. The Shock of the New: Art and the Century of Change. London: Thames and Hudson, 1980, p. 382.
[iv] Künzli produziu multiplos (broches The Red Spot and Colour ), usou materiais alternativos (por exemplo espuma, papel de parede), fez comentários políticos, sociais e culturais (Oh, say exposição  focada na sociedade americana e seus icones, Gold makes you blind and Chain) e usou performance e fotografia para apoiar e articular as idéias por tras de sua jóias  (Swiss Gold – The Deutschmark).
[v] Ver Liesbeth Crommelin e Otto Künzli. Otto Künzli: The Third Eye. Amsterdam: Stedelijk Museum, 1991, p. 20.
[vi] As alianças foram obtidas por anuncios em jornais.
[vii] Ver Peter Dormer e Ralph Turner. The New Jewellery: trends + traditions. London: Thames and Hudson, 1994.
[viii] Otto Künzli: The Third Eye, p. 92.


posted by Dionea Rocha Watt

26.1.11

Otto Künzli

Last year Otto Künzli was awarded with the Swiss Confederation’s Grand Prix Design.[i] We can trace the roots of the social and political commentary so characteristic of his work to transformations in European society brought in by economic development in the second half of the twentieth century.[ii] In post-war Europe social changes influenced art education and transformed the perspective of goldsmiths who trained at art school – which became a fertile ground for the cross-pollination of applied and fine arts. Jewellery departments encouraged self-expression and individuality, an objective more often pursued by fine artists. Instead of simply copying and adapting the formal models from the past, applied art students were encouraged to delve into new materials and concepts, reflecting their own time. The role of the goldsmith as simply an executor of a designer’s idea began to change.


Otto Künzli (b. Switzerland 1948) trained as a goldsmith in Munich under Hermann Jünger (b. Germany 1928) in the 1970s, a time when the traditional view of the goldsmith – as mainly a very skilled technician – was still being challenged. More importantly, the preceding decade was a time of social unrest, manifest in the counterculture movement. Anti-establishment radical artists used new media, such as performance and body art, to react against an apparent apathy in the art world.[iii] Art became politicised again and it carried a message. In parallel with this, jewellers started questioning their own field of practice. Künzli is part of a generation of European jewellers, including Gijs Bakker (b. Holland 1942), Caroline Broadhead (b. England 1950) and Bernhard Schobinger (b. Switzerland 1946), who felt uncomfortable with the conventions that surrounded jewellery making and wearing and its long held connotations of luxury and wealth. They started using non-precious materials to reject elitist values and connotations. They also began to use photography and performance as part of their practice and to produce multiples. This could be seen as a response to a desire of democratizing the work and a reflection of the discomfort that some of them had about using precious materials, especially gold. This generation of jewellers sought to create work that challenged assumed notions of preciousness and wearability; exploring the history and tradition of the field critically in order to contest it.


Although Otto Künzli’s work reflects a wide range of concerns within and outside the arena of jewellery,[iv] it is the exploration of jewellery’s history and the materiality of gold that inform the work shown here.


Otto Künzli. Gold makes you blind, 1980. Rubber, gold.
Künzli declared that gold had lost its appeal to him in part due to the arbitrary production of meaningless gold jewellery. What once had been “a reflection of the divine” and was imbued with mythical lure had become empty and unappealing. Perhaps this could also have been due to social and political circumstances, such as the extraction of gold in South Africa during the Apartheid regime. In 1980 he decided to make his “final work with gold”, a black rubber bangle encasing a ball of gold – Gold makes you blind. This, for him, was a way of returning gold to the darkness from whence it came and allowing him to “reappraise gold”.[v]

Otto Künzli. Chain, 1985-1986. Gold. L: 85 cm

When Künzli returned to using gold, he explored the narrative potential of an archetypal jewellery piece embedded in ritual: the wedding ring. The result was loaded with moral issues, for Chain is constructed from 48 second-hand gold wedding rings.[vi] Although it is ‘classical’ and aesthetically pleasing, it was, in the words of jewellery critic and author Ralph Turner, “unwearable”:[vii] who would want to wear a chain composed of rings that were once part of other people’s lives, some of them with personal engravings? Wedding rings are charged with cultural connotations. They are very intimate pieces of jewellery and one would like to imagine that they would be cherished even after the death of its owner, or maybe have been buried with them. To see that, in the end, most of them are recycled, melted down to produce yet more jewellery is to have the romantic notion of a precious personal object destroyed. In the catalogue of Künzli’s The Third Eye exhibition the following question was posed: “How much gold from antiquity, from the Aztecs, from marvellous cult objects and art works lives on in some ordinary piece of jewelry today, or how much from the teeth of Nazi victims in concentration camps…?”.[viii] Chain makes us reflect on the fundamentally transient nature of life and relationships, on the transformation of matter and jewellery’s place in all of this.

Notes:
[i] This text is intended as a brief introduction to the work of Otto Künzli in response to NOVAJOIA’s post of his latest award, and is not a thematic essay.
[ii] For a discussion of these changes, see Ursula Ilse-Neuman, ‘None that Glitters: Perspectives on Dutch and British Jewelry in the Donna Schneier Collection’, in Zero Karat: The Donna Schneier Gift to the American Craft Museum. New York: American Craft Museum, 2002.
 [iii] Piero Manzoni (1933-63), one of the fathers of Conceptual Art, created a limited edition of cans containing the artist’s shit, in 1961, to comment on the “cult of personality in the Western art market”. See Robert Hughes. The Shock of the New: Art and the Century of Change. London: Thames and Hudson, 1980, p. 382.
[iv] Künzli has produced multiples (The Red Spot and Colour brooches), used alternative materials (e.g. hardfoam, wallpaper), made political, social and cultural comments (Oh, say exhibition focusing on U.S.A. society and its icons; Gold makes you blind and Chain) and used performance and photography to support and articulate the ideas behind his jewellery (Swiss Gold – The Deutschmark).
[v] See Liesbeth Crommelin and Otto Künzli. Otto Künzli: The Third Eye. Amsterdam: Stedelijk Museum, 1991, p. 20.
[vi] The wedding rings were obtained through a newspaper advertisement.
[vii] See Peter Dormer and Ralph Turner. The New Jewellery: trends + traditions. London: Thames and Hudson, 1994.
[viii] Otto Künzli: The Third Eye, p. 92.


posted by Dionea Rocha Watt

23.1.11

Humor in Craft


Embora não seja uma noticia exclusivamente ligada a arte-joalheria, estamos divulgando aqui no blog do NOVAJOIA:
Brigitte Martin, responsável pelo site crafthaus está organizando um livro sobre humor nas artes aplicadas (dificil traduzir Craft...): Humor in Craft

Data limite para envio de material: March 1, 2011.


Enviar por email:

- Imagens 72 dpi
- infos sobre tecnicas/medias, medidas
- breve resumo sobre seu trabalho e sobre como ve o tema "humor in craft"

- Artistas de Audio/Video : enviar um trecho de seu trabalho por email ou um link do trabalho completo.

Uma vez selecionado, voce receberá mais detalhes sobre as imagens finais a serem enviadas para a impressão do livro e outras infos.

21.1.11

Centenário de uma Jóia

Solange Jansen, que já participou em dois workshops promovidos pelo NOVAJOIA, estará participando da exposição Centenário de uma Jóia. A exposição promovida pela Firjan é composta por um total de 40 peças, entre anéis, colares e pulseiras, criadas em ouro, prata e pedrarias por 40 jovens designers – dentre alunos e docentes da Escola de Joalheria do Senai -, que se inspiraram nos luxuosos detalhes que compõe a arquitetura do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, como o cintilar de seus lustres, os ornatos dourados das paredes e o parquet do piso.
A exposição ficará aberta ao público no período de 20 de janeiro a 20 de fevereiro, e poderá ser vista nos dias e horários da visita guiada.

detalhe da peça de Solange Jansen

19.1.11

Conferência: Ourivesaria (Portugal e Brasil)



Agora em Janeiro receberemos a visita do Prof. Dr. Gonçalo Vasconcelos e Sousa, diretor do departamento de arte e restauro da Escola das Artes da Universidade Católica do Porto.
Ele realizará uma conferência sobre a ourivesaria na relação entre Portugal e Brasil, abrangendo o período que vai do século XVIII ao XX.
Trata-se de uma oportunidade imperdível com o maior especialista português em ourivesaria e prataria dos séculos XVIII e XIX.

O evento gratuito acontecerá no Museu do Ipiranga, dia 28 de janeiro às 14 hs.



Além desta conferência, dará também uma palestra promovida pela ASBRAP no Mosteiro São Bento com o tema História da Família em Portugal: novas perspectivas para o seu estudo, no dia anterior (27 de janeiro, quinta) às 19hs00.

18.1.11

Envie seu anel!



A joalheira Thelma Aviani nos avisa que a Lark Books está com inscrições abertas para envio de imagens de anéis que serão selecionadas para fazer parte de um de seus tradicionais livros da série '500 '.

O jurado será Bruce Metcalf e o livro tera 420 paginas coloridas com peças criadas depois de 2000. O livro será publicado no primeiro semestre de 2012.

Os anéis podem ser feitos de qualquer material e aqueles joalherios selecionados para incluir seu trabalho no livro receberão créditos completos, uma cópia e descontos em futuras compras de livros da editora.  Não há taxa de inscrição e são aceitas imagens digital 300dpi, transparencias e slides.

A data limite é 30 de Março de 2011.

Para saber mais detalhes, confira o link


Infelizmente a inscrição não é online e o material tem que ser enviado por correio.O endereço para envio do material é:
Lark Crafts/500 Gourds
67 Broadway
Asheville, NC  28801
Attn: Dawn

3.1.11

Munique em Março


Todo mês de Março tradicionalmente ocorre em Munique uma grande movimentação em torno da joalheria contemporânea.  Devido à exposição com premiação 'Schmuck', gente de todo o mundo se desloca para lá. As galerias de jóias fazem seus vernissages, há palestras e exposições espalhadas em lugares alternativos por toda a cidade. Enfim, um grande burburinho que vale a pena conhecer.

A PIN está  organizando uma visita com um grupo de no máximo 15 pessoas,  de 16 a 20 de Março de 2011.  O grupo será guiado pelo joalheiro Pedro Sequeira que estudou com Otto Künzli na Akademie der Bildenden Künste e conhece bem a cidade e seus eventos.

Se estiver interessado em ir com a PIN, envie um email, o mais breve possível com nome/s, telefones e questões ou sugestões que queira colocar.

O preço por pessoa está apontado para 550,00 € para associados e 600,00 € não associados, mas pode oscilar. Este valor incluí: viagem (Lisboa/Munique), estadia e café da manhã e transfers em Munique.O valor deverá ser pago em 3 vezes.


É uma excelente oportunidade, não perca! As imagens postadas são da exposição Schmuck em 2005.