em transformações a que a sociedade Europeia foi levada pelo desenvolvimento economico na segunda metade do seculo XX.[ii] No pós-guerra europeu as mudanças sociais influenciaram a educação de arte e transformaram as perspectivas dos ourives que foram educados em escolas de arte- que se tornarnao um terreno fértil para a polinização cruzada entren artes aplicadas e artes plásticas. Os departamentos de joalheria encorajaram a auto-espressão e individualidade, um objetivo que era mais buscado pelos artistas plásticos. Ao inces de apenas copiar e adpatar os modelos formais do passodo, os estudantes de artes aplicadas eram encorajados a mergulhar em novos materiais e conceitos, refletindo seu próprio tempo. O papel do ourives como um simples executor da idéia de um designer começava a mudar.
Otto Künzli (nascido na Suiça em 1948) estudou ourivesaria em Munique com professor alemão Hermann Jünger (nascido em 1928) nos anos 70, uma época em que a perspectiva do ourives - como um técnico habilidoso - ainda estava sendo desafiada. De forma mais significativa, a década anterior foi um tempo de inquietações sociais manifestas no movimento de contracultura. Artistas radicais anti-establishment usaram as novas mídias como performance e body arte, reagindo a aparente apatia do mundo. [iii] Arte tornou-se politizada novamente e tinha uma mensagem. Paralelamente, joalheiros começaram a questionar seu próprio campo de ação . Künzli pertence a uma geração de joalheiros europeus que inclui o holandês Gijs Bakker (1942), a inglesa Caroline Broadhead (1950) e o suiço Bernhard Schobinger (1946), que sentiam-se desconfortáveis frente as convenções do mundo da joalheria e suas tradicionais conotações de luxo e riqueza. Eles começaram usando materiais não preciosos para rejeitar os valores e conotações elististas . Também começaram a usar fotografia e performance como parte de sua prática e tambem a produzir múltiplos. Isto pode ser visto como uma resposta ao desejo de democratização de seu trabalho e um reflexo do desconforto que alguns tinham em usar materiais preciosos, especialmente o ouro. Esta geração de joalheiros criou um trabalho que desafiou as noções de preciosidade e usabilidade, explorando criticamente a história e tradição da área para poder contestá-la.
Embora o trabalho de Otto Künzli reflita uma variedade de preocupações dento e fora da área da joalheria,[iv] é na exploração da história e materialidade do ouro que vamos nos ater aqui.
Otto Künzli. 'Ouro te deixa cego', 1980. borracha, ouro. |
Künzli declarou que o ouro perdeu seu apelo para ele em parte devido a produção arbitrária de joalheria sem sentido. O que fora outrora o 'relfexo do divino' e era embebido em uma aura mitica tornara-se vazio e sem graça. Talvez isto tambem se devesse às circunstâncias sociais e políticas como a extração de ouro na África do Sul durante o regime do Apartheid. Em 1980 ele decidiu fazer seu 'ultimo trabalho em ouro' . uma pulseira de borracha preta que continha uma bola de ouro - 'Ouro te deixa cego'. Isto foi para ele uma maneira de retornar o ouro a escuridão de onde veio e permitir que ele o o revalorizasse novamente.[v]
Otto Künzli. ' Corrente', 1985-1986. Ouro. L: 85 cm |
Ao voltar a usar ouro, Künzli explorou o potencial narrativo da joalheria arquetípica mergulhada no ritual: a aliança de casamento. O resultado veio carregado de questões morais, poir 'Corrente' é feito a partir de 48 alianças de segunda mão.[vi] Embora seja ‘classica’ e agradável estéticamente, era, nas palavras do autor e crítico Ralph Turner, ' não-usável”:[vii] que iria querer uma corrente composta de alianças que foram parte da vida de outros, algumas até com gravações bem pessoais? Alianças de casamento são carregadas de conotações culturais. São peças de joalheria muito intimas e imagina-se que tenham sido estimados mesmo após a morte de seu dono, ou mesmo enterrada com ele. Para se ver que no final, a maioria é reciclada, derretida para produzir mais joalheria, destruindo a noção romântica do objeto pessoal precioso. No catálogo da exposição The Third Eye, Künzli pergunta: “Quanto ouro da antiguidade, desde os astecas, desde maravlilhosos objetos de culto e peças de arrte vivem hoje em peças comuns de joalheria hoje, ou quanto dos dentes das vítimas de campos de concentração nazistas de concentração…?”.[viii] 'Corrente; nos faz refletir na natureza fundamentalmente transitória da vida e das relações, na transformação da matéria e no lugar da joalheria no meio de tudo isso.
Notas:
[i] Este texto tinha a intenção de ser uma breve introdução ao trabalho de Otto Künzli em resposta ao post do NOVAJOIA sobre seu ultimo premio, não se trata de um ensaio temático.
[ii] Para uma discussão sobre essas mudanças, ver Ursula Ilse-Neuman, ‘None that Glitters: Perspectives on Dutch and British Jewelry in the Donna Schneier Collection’, in Zero Karat: The Donna Schneier Gift to the American Craft Museum. New York: American Craft Museum, 2002.
[iii] Piero Manzoni (1933-63), um dos pais da Arte Conceitual, criou uma edição limitada de latas contendo suas fezes, em 1961, para fazer um comentário sobre o culto `a persoanlidade no mercado de arte ocidental”. Ver Robert Hughes. The Shock of the New: Art and the Century of Change. London: Thames and Hudson, 1980, p. 382.
[iv] Künzli produziu multiplos (broches The Red Spot and Colour ), usou materiais alternativos (por exemplo espuma, papel de parede), fez comentários políticos, sociais e culturais (Oh, say exposição focada na sociedade americana e seus icones, Gold makes you blind and Chain) e usou performance e fotografia para apoiar e articular as idéias por tras de sua jóias (Swiss Gold – The Deutschmark).
[v] Ver Liesbeth Crommelin e Otto Künzli. Otto Künzli: The Third Eye. Amsterdam: Stedelijk Museum, 1991, p. 20.
[vi] As alianças foram obtidas por anuncios em jornais.
[vii] Ver Peter Dormer e Ralph Turner. The New Jewellery: trends + traditions. London: Thames and Hudson, 1994.
[viii] Otto Künzli: The Third Eye, p. 92.
posted by Dionea Rocha Watt
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