16.5.11

Maíra das Neves, arte-joalheria, dúvidas

postado por Mirla Fernandes

 "E com um endereço, chão e luz, o ateliê já funciona! Quando eu fui limpar o chão pra trocar o piso, notei uma cor azul que insistia em aparecer. Ela brotava dos rejuntes quando eu passava o pano. Quanto mais eu jogava água, mais azul ficava até que percebi que o azul não tem fim. Ele brota do concentrado das áreas carmim, uma meleca dura que tem lá colada no piso. Mais um dos resquícios da fábrica de chocolate. desisti de brigar com o azul vizinho, e resolvi coletá-lo. Com papel pra aquarela, um borrifador de água, eu comecei a recolher o azul."
detalhe vídeo do trabalho de Maira das Neves




"Eu gosto de pensar pequeno". A frase é uma ironia poética de Maíra das Neves, artista paulista radicada no Rio de Janeiro, que alugou um ateliê de um metro quadrado numa fabrica de chocolate desativada na área portuária do Rio de Janeiro e tem esse projeto de 'mobiliá-lo' através de um crowdfunding, o Mutirão.


Pego emprestado as dimensões diminutas que o ateliê da Maíra tem para pensar que ali o espaço é  precioso. Ali, é melhor usar a regua e não a trena. Muito mais do que em metros quadrados, pode-se pensar em centimetros, . E será o potencial do pequeno também menor?  É claro que não: pensar no pequeno é focar, concentrar o potencial poético. É dai que  penso na jóia. Falo da jóia como mídia/assunto manifestado como arte contemporânea que está neste momento da história a delinear os novos territórios a serem ocupados.

Estamos neste blog já há quase dois anos a comentar e ressaltar trabalhos que falem do que é precioso, que discutem valores, exploram a relação com o corpo, falam do desejo, e por que não, transitam pelo universo das dimensões reduzidas. Fazem tudo isso usando as técnicas mais convenientes e diversas para que a idéia/conceito se concretize em uma forma plástica, geralmente ligada ao corpo.

A intenção é divulgar para as pessoas, trabalhos que ampliam os limites da joalheria contemporânea, incluindo aqueles que dialogam diretamente com a arte. Quando digo arte, me refiro à arte contemporânea, deste século, ou seja, pós Duchamp (embora este senhor e as implicações que seus trabalhos tiveram pareçam completamente desconhecidas no mundo da joalheria contemporânea nacional, vide o feed-back de comentários que temos recebido ao longo desses anos em palestras, cursos e posts!).

trabalho de Mariana Dupas apresentado em exposição do Projeto Nova Joia, 2007



Conversando com Mariana Dupas (outra artista que já utilizou fotografia para falar do precioso e do detalhe, do pequeno) neste fim-de-semana, durante a SP Arte lembramo-nos do trabalho Las Joyas de la Corona do cubano Carlos Garaicoa apresentadas no Bienal de SP no ano passado. Sem qualquer ligação com o mundo da dita Joalheria Contemporânea, porem com técnicas impecáveis da ourivesaria, reduziu o monumental e usou o termo jóia para falar de algo que "tivesse um histórico na relação algo faustosa do ser humano com estes objetos de desejo". (artesquema)
 
Carlos Garaicoa


Dentro do percurso do NOVAJOIA  fomos percebendo que  nos referirmos a esses trabalhos ( que fazemos e divulgamos) com o termo Joalheria Contemporânea se mostrou inadequado, pois o termo engloba todas os tipos de jóias: a industrial, a artesanal, a autoral, etc. Optamos por chamar essa produção como arte-joalheria, assim como é feito também em outros países.  Porém fica a dúvida sobre a necessidade dessa distinção,  de o quanto ela na realidade coloca um rótulo limitante em trabalhos tão interessantes quanto os de uma artista como Cristina Filipe, que na verdade é apenas arte-contemporânea que trata do assunto da jóia. E do quanto ela nos afasta do olhar atento que o trabalho que tem carga poética exige. Para haver esse olhar, deve haver um lugar adequado a ele, e certamente esse lugar não é a loja de design, a loja do museu ou a boutique fashion.

Pois então, qual o caminho para esse tipo de produção?

Cristina Filipe. still do video Hero, 2009

Dúvidas a parte,  a intenção desse post era contar sobre a iniciativa da Maíra. Divaguei...
Veja abaixo o vídeo que conta melhor essa história. Colabore, espalhe, participe!


1m2 expandido from maíra das neves on Vimeo.

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