22.3.11

Arte Joalheria discutida em Amsterdã


Danner Rotunda - Pinakothek der Moderne - Munique
 Jeanne Tan no site Design NL comenta sobre o encontro que aconteceu na Holanda agora em Março para discutir o futuro da Arte-Joalheria. O objetivo do encontro era comparar a situação da arte-joalheria na Holanda com o que acontece no mundo, focando na mudança dos mercados joalheiros e o papel dos museus e educação no campo da joalheria. Na discussão apareceram diferentes opiniões sobre a relação arte-joalheria e industria.

Entre os fatores levantados para a crise da arte-joalheria na Holanda estão a diminuição do número de colecionadores (que está envelhecendo e morrendo), o espaço limitado para o crescimento das galerias (é só pensar na crise pela qual passou a Galerie Ra ano passado), e o pequeno reconhecimento da profissão e do trabalho em si.

Para nós brasileiros é interessante notar que as discussões sobre os valores neste campo também estejam sendo discutidas por lá, evidenciando que a falta de visibilidade da arte-joalheria não é apenas nacional, porem internacional também.

Como é afirmado no site:  "(...)Quando vemos a arte-joalheria contemporânea parece que o oposto está acontecendo. Arte-joalheria existiu em seu próprio campo no contexto de galerias e colecionadores - apesar de curiosamente distante do círculo das artes plásticas. Os trabalhos são em geral experimentais, autônomos, feitos em pequenas quantidades, onde a usabilidade não é a principal preocupação. Hoje, entretanto, o mercado para esse tipo de joalheria parece estar diminuindo e a arte-joalheria encontra-se em uma encruzilhada.  Por um lado há aqueles que defendem uma re-orientação voltada para a moda -e até um certo ponto o design - o que levaria beneficamente a um público novo e maior mas que inevitavelmente implicaria no elemento consumo/indústria e talvez mais ....usabilidade?"

Na discussão todos concordaram que era necessário aumentar o público interessado no tema, alcançando os jovens. Uma das opções propostas foi a aproximação com o campo da moda, além das vendas em lojas pop-up, como a conhecida Op Voorhad, onde os preços são baixos, e assim permitem que uma nova leva de colecionadores jovens possa ser iniciada.

Essa posição a meu ver, não resolve a situação. Se o artista quiser trabalhar no domínio do design ou da moda, ele instantaneamente deixa de ser arte-joalheiro e se torna designer, e portanto a questão do artista-joalheiro continua insolúvel.  Na verdade essa proposta propõe praticamente sua  extinção,  colocando sua produção dentro da dinâmica da novidade/tendência que não leva em conta o desenvolvimento do percurso poético do artista ao longo de sua carreira.   A 'liquidação' que promovem os eventos pop-up  podem ser um paliativo imediato confortável para aqueles que vendem, porém reafirmam muito mais a desvalorização do trabalho ao invés da necessária legitimização da arte-joalheria pelo mercado de arte.

O post anterior mostra uma brincadeira onde uma pintura feira por crianças é colocada numa das mais importantes feiras de arte contemporânea e recebe comentários afirmando sua qualidade e valor, embora não tenha havido, em nenhum momento por parte dos entrevistados, qualquer interesse no percurso do 'artista' que fez a pintura.
A brincadeira evidencia uma grande cilada para o criador contemporâneo: ele não existe enquanto não for reconhecido pelo devido mercado. A qualidade de sua produção pode ser apenas um dos fatores. Isso vale para o artista plástico, isso vale para o artista-joalheiro.

A legitimização do trabalho ocorre  quando instituições que promovam a cultura, como os museus, derem mais atenção ao assunto.  Foi exatamente esse um dos pontos levantados na discussão. A historiadora alemã Barbara Mas comenta que museus deveriam dar mais atenção ao assunto, especialmente os de arte porque têm uma clientela diferenciada que  - mesmo hoje - está desinformada sobre a arte-joalheria.


postado por Mirla Fernandes

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